Como antropóloga de formação, ao longo de minha carreira busquei sempre que possível fazer uso e aplicar esta ciência social tão retumbante, ao meu ver, no exercício do meu dia a dia, fosse nos negócios ou na gestão da GENTE sob minha responsabilidade.
Em diversas ocasiões mencionei, e menciono ainda aos meus, seja em reuniões, conversas isoladas, em grupo, em cursos ou palestras, que trabalhar na área da saúde não se trata de um emprego, de um contrato formal CLT ou PJ mas acima de tudo, se trata de uma missão. Missão de vida, e quando se delimita ao universo de nosso país, ainda mais. Não necessito aqui elucidar os porquês dessa afirmação, pois sejam os trabalhadores do front, do back office ou mesmo os próprios clientes que são os pacientes, viveram ou vivem experiências que podem comprovar essa questão.
Dessa forma, senti hoje o desejo de falar um pouquinho sobre essa Antropologia, ciência sobre a qual me apaixonei na minha adolescência. Com 14 anos estava convicta de me formar nessa vertente. Àquela época pensava, estudava e vivia a Antropologia Cultural, pois imaginava trabalhar em instituições como a Calousti Goulbelkian, Jacques Cousteau realizando pesquisa de campo sobre outras culturas. Não imaginava que circunstâncias da vida prática me levariam a respirar antropologia na gestão de pessoas, que não deixa de ser cultural também. Estudar, viver e buscar compreender as “diversas culturas” que permeiam instituições focadas no campo da saúde.
Diz a parte conceitual que: Antropologia da Saúde corresponde a uma especialização ou aplicação da antropologia ao estudo do comportamento humano para obtenção e manutenção da saúde através de práticas culturais. Naturalmente, trata-se de uma divisão com fins didáticos pois não há como isolar um “fato” social do seu contexto ou realidade construída pelas sociedades humanas com sua linguagem e cultura característica.
Tal ciência aplicada pode ser melhor compreendida tanto pela análise da produção de trabalhos produzidos por antropólogos e demais cientistas sociais como pela especificidades da área de aplicação e suas interfaces com demais ramos do conhecimento.
A antropologia da saúde é perfeitamente distinta da antropologia médica uma vez que há de se considerar que esta última se detém no estudo das racionalidades médicas, e no estudo das patologias e sistemas terapêuticos – a medicina, tal com conhecemos em nossa sociedade estabelecendo limites difusos com a antropologia biológica e antropologia física ou pode se deter no conceito ampliado de saúde tal como desenvolvido pela medicina social, epidemiologia e estudo da saúde pública.
Diversos estudiosos compartilharam suas contribuições à respeito desse tema. Uma delas e de destaque é a de Arthur Kleinman que segundo ele, observando-se a trajetória de pacientes e curadores no contexto cultural distingue-se na organização social o sistema cultural de cuidados de saúde (Health Care System) correspondendo a estas práticas: a o setor ou medicina popular / familiar, conhecida e praticada por todos; a medicina tradicional, que exige um especialista formador – a relação mestre/ discípulo e finalmente o setor médico profissional que se caracteriza-se por possuir escolas formais e hegemonia social. (Kleinman apud Uchoa; Vidal e Currer).
Para melhorar a minha própria didática, utilizo a proposta da estudiosa Luz (1988) que trata sobre as racionalidade médicas ou sistemas lógicos e teoricamente estruturados que tem como condição necessária e suficiente para ser considerada como tal, a presença dos seguintes elementos:
- Uma morfologia (concepção anatômica)
- Uma dinâmica vital (“fisiologia”)
- Um sistema de diagnósticos
- Um sistema de intervenções terapêuticas
- Uma doutrina médica (cultura dos processos e dos atores destes em organizações que têm como produto serviços de saúde)
Vejamos:
- morfologia – compreensão, entendimento da anatomia da organização onde se está inserido
- dinâmica vital – diagnóstico, análise, decisão, planejamento, definição, implantação, monitoramento e controle da fisiologia estrutural e cultural do ambiente, das necessidades atendidas em relação às demandas, dos protagonistas e stakeholders dos processos
- sistema de diagnóstico – formalizado, apresentado, compartilhado e assumido compromisso por parte da Alta Direção em fazer acontecer, independente do porte do desafio e das consequências implícitas a essa implementação
- sistema de intervenções terapêuticas – o clássico mas não menos difícil: FAZER ACONTECER DOA A QUEM DOER
- doutrina médica – entendamos aqui como doutrina saudável da administração
Observem que a espinha dorsal considera os mesmos elementos apenas saindo do âmbito da medicina e se analisando agora à ótica da administração, através do estudo dos comportamentos de seus atores e das culturas das organizações em que esses processos ocorrem.
Faz sentido para você essas minhas indagações e considerações sob este novo olhar? O que te parece? Gostaria de comentar ou dividir sua própria experiência? Este espaço também é teu e o convite está feito. Participe!
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